Existe “mal necessário”?

Por mais que os indivíduos do sexo masculino sempre tenham nos feito acreditar que sim, a resposta é não. Não existe. Todo mal é desnecessário.

Mas porque?

Porque o mal é uma coisa cem por cento volitiva, ou seja, depende totalmente da nossa vontade. Se alguém é mal, ou faz coisas más, é simplesmente porque quer, e não há desculpas ou justificativas para isso. Simplesmente a pessoa foi fraca, cedeu à tentação e fez o que é errado. Ou então ela fez o mal porque é sem caráter ou é sádica.

Achar que existem desculpas e justificativas plausíveis para se cometer o mal é pensar exatamente igual á ideologia nazista e fascista.

Objeção número 1: “Um vilão é apenas uma vítima cuja história não é contada”.

Talvez isso se aplique à ficção, mas na vida real os psicólogos dizem justamente o contrário. Aqueles famosos atiradores de colégio, que comumente são retratados pelo público desinformado como “vítimas da sociedade” por terem sofrido bullying, já foram desmistificados como vítimas por psicólogos, policias e por quem os conhecia. Segundo os psicólogos, o bullying pouco ou nada tinha a ver com a decisão de matar os colegas. Ou as pessoas, no local público. A verdadeira razão era a personalidade doentia deles, ligada a fanatismo e a nazismo, que seria revelada um dia, mais cedo ou mais tarde, de qualquer jeito. Ou seja, qualquer gatilho, não importa qual fosse, desencadearia a agressividade deles. Ou seja, com ou sem bullying, um dia eles pegariam uma arma e a colocariam na cabeça de alguém, meramente por não saberem lidar com frustração. É muito mais a incapacidade de lidar com frustração e rejeição e a imaturidade que leva ao vitimismo e a auto-indulgência. Ou então eles só fizeram aquilo para serem “lembrados”. Querem atenção.

Se sofrer bullying fosse razão suficiente para se atirar nos outros, então todas as vítimas de bullying do mundo atirariam nos outros. Outra coisa interessante a se notar é que as verdadeiras vítimas de bullying na verdade cometem suicídio, e não matam os outros.

E se ser vítima da sociedade fosse razão o suficiente para se cometer qualquer tipo de mal, então todos seríamos maus. Pois todo mundo já foi vítima da sociedade em algum ponto. A diferença é que alguns são fortes o suficiente para superar o vitimismo e seguir em frente e dar a volta por cima, enquanto outros são fracos e sucumbem ao vitimismo e à auto-indulgência. Pois pensam que seu sofrimento é especial.

“Todo mundo sofre. Você é maluco por achar que seu sofrimento é especial.” - Homem do Futuro (Filme).

E até mesmo na ficção isso se aplica. O vilão é vilão muito mais porque escolheu ser, porque acha que o mal é mais excitante e recompensador, do que por qualquer outra coisa.

Essa desculpa do sofrimento para se ter cometido o mal vem de pessoas ingênuas que querem acreditar que existe alguma bondade, mesmo que mínima, em pessoas más. Que elas só cometeram o mal porque estavam sofrendo, no fundo são boas. Mas se existisse mesmo bondade nelas, elas não estariam fazendo o mal em primeiro lugar. Estariam fazendo o bem. O que nos leva à segunda objeção.

Objeção número 2: “Ele(a) só fez o mal porque foi coagido(a)!”

Sartre já havia dito que nós seres humanos estamos “condenados à liberdade”. Isso significa que não importa a situação, sempre teremos liberdade de escolha. Até mesmo em circunstâncias de coação, essa liberdade de escolha não é tirada. Ela é apenas restringida. O coerçor, por mais que elimine todas as opções possíveis para forçar a vítima a fazer o que ele quer, ainda assim, dá uma última a vítima: Ao invés de fazer o que ele quer, a vítima poderia pedir ao coerçor para matá-la, porque ela se recusa a fazer o que ele quer. Sem escolha, ele iria fazer isso.

Mas quantas pessoas são altruístas o suficiente para abdicar da própria vida só para não matar os outros?

Em circunstâncias de coerção, nosso primeiro instinto é sempre proteger nossa própria pele, a nossa família ou então qualquer coisa que seja importante para nós. Jamais alguém pensa em proteger aquilo que o coerçor está querendo destruir e matar em troca da vida do refém e/ou da família dele.

Em uma situação do tipo: “Fabrique uma bomba para eu colocar em um trem lotado de pessoas senão eu matarei sua família”. Todos pensam em apenas proteger a própria família, ninguém pensa em proteger as pessoas do trem.

Até em circunstâncias de coerção há uma parte de nós que está sendo egoísta: A pessoa prefere fazer o que o coerçor manda do que se recusar e sofrer as circunstâncias estabelecidas por ele. Como no exemplo, o refém optou por fabricar a bomba e matar dezenas de pessoas do que deixar a si mesmo e a sua família morrer.

Ou seja, nem em circunstâncias de coerção a volição some. Porque ela nunca some, isso é impossível. Ela apenas é restringida.

“Mas eu não quero morrer e/ou deixar minha família morrer!”

Claro que esse exemplo de morte foi apenas em um caso extremo. Último, em que realmente não há saída. Mas geralmente, sempre há outras opções do que simplesmente ceder ao coerçor (Como acionar a polícia ou fugir por exemplo).

Caso não aja, a pessoa pode escolher morrer para salvar a própria família.

Se cedemos ao coerçor meramente para salvar a nossa própria pele, ou qualquer outra coisa que importe para nós, estamos sendo egoístas. Pois preferimos escolher a nós mesmos do que aos outros.

Na realidade brasileira, isso se aplicaria a criança que já nasce no crime e no tráfico, e por isso cresce e se torna criminosa. Ela pode não ter escolhido nascer no crime e na pobreza, mas se continua nele, aí a escolha é dela.

Objeção número 3: “O mal ás vezes é necessário para se atingir algum objetivo, ou para se resolver algum problema. É apenas um meio”.

Não. Somos seres humanos, somos inteligentes, somos capazes de pensar em ínumeras alternativas possíveis.

Para todo objetivo, existem diversos meios para se alcançá-lo. O mal não é o único deles.

Para todo problema, existem diversas soluções. O mal não é o único deles.

Mas porque o mal é o primeiro meio, é a primeira solução que sempre vem à nossa cabeça? Porque não o bem?

Para todo objetivo, para todo problema, sempre existe o meio e a solução do bem. Se não existe ainda, podemos inventá-lo. Basta usar a criatividade.

Mas muitas pessoas preferem optar pelo meio, pela solução do mal, meramente porque é mais fácil, ou mais barato. Ou seja, são preguiçosos conformistas.

De qualquer jeito, todo o mal que existe é sempre fútil, não interessa a razão pela qual se está fazendo-o.

Bilhões de animais todos os dias são mortos, explorados e torturados meramente para se extrair deles carne ou matéria-prima. E para quê? Só para alguém ter o prazer fútil de saborear a carne e os derivados deles em sua boca meramente por alguns segundos. Ou seja, meros segundos de prazer fútil na boca justificam o assassinato, a tortura e a exploração de um ser vivo. Não há nem comparação entre esses dois pesos.

Se a questão é apenas paladar, podemos desenvolver outros sabores, outras comidas, outras técnicas, outras tecnologias que não envolvam a morte e a exploração de outros seres.

Nossa mente é preguiçosa e comumente pensa sempre primeiro na alternativa que nos convém. A que é mais fácil, a que é mais barata. A que é melhor, para nós. Poucas pessoas botam a cachola para funcionar e criam alternativas que reduzam o mínimo possível o impacto no meio ambiente e pros animais.

Objeção número 4: “Ah mas um pouco de sofrimento vai moldar o caráter da pessoa”.

Então se deve traumatizar uma pessoa de graça apenas para “moldar o caráter dela?”

Esse argumento é tipicamente machista. É a famosa idéia de que o menino tem de sofrer, tem de apanhar, para “virar homem”. “Para se tornar forte”.

Não. O sofrimento apenas causa trauma, medo, estresse, aversão, ódio, ressentimento, depressão, ansiedade e outros inúmeros transtornos. Para quê submeter uma pessoa à isso?

Sob a ótica da psicologia behaviorista, punir alguém traz mais consequências negativas do que positivas (trauma, medo, estresse, aversão, ódio, ressentimento, depressão, ansiedade e outros transtornos). E ainda, ela dificulta a aprendizagem. Pois a pessoa desenvolve um comportamento de fuga e/ou esquiva ao objeto de aversão.

Como com medo, com trauma e sob coerção alguém conseguirá aprender?

A pessoa aprende muito mais e melhor com um reforçador positivo.

E além disso, o que a pessoa, ou o menino, fez de tão errado assim para “merecer” ser punido?

Já sei. Ele foi “mulherzinha”. Ou seja, foi fraco. E por isso merece ser punido.

Primeiro, os homens tem uma idéia deturpada de força: Eles pensam que força é meramente ser estóico. E/ou ser cruel. Mas não. Estão errados. Força não é estoicismo. Força não é crueldade. E força não está e nem precisa ser vinculada com estoicismo e crueldade.

Força simplesmente é força.

E porque força não pode ser vinculada a coisas boas? Como bondade?

Na verdade, a verdadeira força É vinculada com a bondade (O ideal é se manter longe da crueldade e da fraqueza).

Porque os homens vinculam força com estoicismo eu explico aqui. E porque vinculam com crueldade eu explico aqui.

Na verdade, segundo a teoria taoísta do yin e yang, homens se mantem estóicos e cruéis para se manterem fortes e longes da fraqueza. Pois ser cruel é um meio de se manter forte e longe da fraqueza. Pelo menos, é o meio mais fácil.

Mas não é o único. Se permear entre a bondade e a força é o melhor método e o ideal. Ainda que seja o mais difícil.

Leia a minha teoria yin yang aqui.

Pensando bem, em toda a nossa vida, se pudéssemos escolher, teríamos escolhido ter vivido uma vida totalmente sem sofrimento. Ou pelo menos, com o mínimo de sofrimento.

Se não queremos sofrimento nem para nós, porque insistimos em querer submeter os outros à isso? Especialmente nossas crianças?

Eu percebo, que há um verdadeiro padrão duplo entre fraqueza e mal. Para o primeiro, nunca há justificativa. Enquanto que para o segundo, sempre há justificativa, não interessa o quão fútil seja.

A diferença é que o mal é volitivo, depende totalmente de nossa vontade e de nossas escolhas, enquanto que a fraqueza não. Ninguém escolhe sofrer um acidente e quebrar todos os ossos do corpo, ou ficar em coma, ou ter depressão, ou ficar paralítico, ou sofrer de qualquer outra doença que cause fraqueza. E mesmo assim, a sociedade nos exige insensivelmente que deixemos de ser fracos e voltemos a ser fortes. Se dizemos que não dá, que a dor está muito grande, que estamos sofremos, que estamos doentes, que estamos morrendo, mesmo assim não há justiticativa. É tudo só frescura, que podemos deixar facilmente e voltar a ser fortes. Ou seja, nos exige ter controle sob algo pelo qual nós não temos controle.

E se aplicam toda essa rigidez com fraqueza, porque não aplicam ao mal? Não. Ao mal "sempre existe uma justificativa." Tem sempre uma desculpa. Não interessa o quão fútil seja.

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