Como é ser um introvertido nesse mundo extrovertido
Quando você é um introvertido e nasce, pelo menos para você mesmo, você é perfeito.
Você é calmo, quieto, tranquilo e adora observar tudo que se passa a sua volta.
Você não liga de não fazer parte de nada, se contenta simplesmente em observar.
Sua mente é um lago tranquilo. Um perfeito óasis de tranquilidade e calmaria. Um universo inteiro onde as estrelas meditam.
É como se você nadasse todo dia na mais profunda paz interior absoluta.
Até que, um dia essa paz interior é destruída.
Quando você aprende que ser quieto e reservado não é a norma.
Sua paz interior é abalada por frases como: "Você é muito quieto, você devia falar mais, você precisa sair da sua concha, você precisa ser mais sociável, você precisa ter mais amigos, você precisa sair da sua zona de conforto, você é tímido, você é anti-social, você é esquisito, você não tem amigos, se continuar agindo assim ninguém gostará de você, etc"
Essas duras palavras agindo como bolas de canhões atacando nossa concha, a destruíndo.
Em todos os lugares aonde você vai, você nunca é bem recebido em nenhum. Ninguém te aceita, ninguém tem compaixão por você. Sua casa, sua escola, seu trabalho.
Seus amigos, seus colegas, seus professores, seus pedagogos, até sua família: Todos o enxergam como uma aberração, um alien. Um ser que precisa de conserto para ser "normal".
Você é perseguido e condenado aonde quer que vá. Somente por ser quem é.
Então, você aprende que quem você é não é suficiente e se esforça para mudar, senão ninguém irá gostar de você.
Passa a usar uma máscara, a máscara da extroversão.
Uma máscara que no começo, é difícil de usar, mas que com o tempo você se acostuma.
Se acostuma tanto a ela ao ponto que ela se coloca automaticamente no seu rosto sem que você ao menos sinta, sempre que necessário.
E com o passar dos anos, vive num dilema: Finge ser o que não é para agradar aos outros, porém no fundo almeja ser autêntico, mas isso simplesmente não é possível. Ou passa a ser quem é de verdade mas fica sozinho.
Alienado da sociedade ou alienado de si mesmo. Duas terríveis escolhas.
Ser ou não ser? Qual das duas será a pior?
A primeira? Ter a liberdade de ser quem nós realmente somos porém sob o preço terrível da solidão, já que não basta ser autêntico sem ter com quem compartilhar.
A segunda? Ter várias pessoas ao nosso lado, ter companhia, porém sob o terrível preço de não podermos ser quem realmente somos ao lado delas. E nenhuma delas nunca realmente nos entenderá.
Para um, o alienamento da sociedade. Para o outro, o alienamento de si mesmo.
E para ambos, um mundo hostil, inabitável, barulhento, poluído, agitado, cheio de pressa, cheios de ruídos, estímulos, luzes, excessos, futilidades, conversas triviais. Um mundo não feito para introvertidos.
Até que sua alma não aguenta mais tanto fingimento e clama por sinceridade, a máscara no seu rosto queima.
Máscara essa que tu almejas arrancar a força e revelar teu verdadeiro eu, tua verdadeira face, ao mundo. E almejando de todo teu coração, que eles te aceitem. E te amem por quem você é. Não por quem você finge ser.
Mas o medo da rejeição é mais forte, ele clama para que você continue a usar a máscara, pois, ainda que seja uma mentira, ela faz com que sejamos bem recebidos em todo lugar e nos ajuda a conseguir tudo aquilo que queremos. Então, porque não usá-la?
É um preço pequeno a se pagar não é? Afinal só estamos cedendo nosso verdadeiro eu, nossa alma, nossa essência, nós mesmos, em troca de sermos considerados seres humanos que tenham valor pela sociedade.
Uma sociedade que não mede ninguém pelo caráter, e sim mede pelo carisma. Que não mede pela inteligência, e sim mede pela sociabilidade, que não mede pela criatividade, mede pela eloquência, que não sequer mede pela capacidade ou competência, mede somente pelo charme. Que não está nem aí para suas idéias, o importante são os decibéis de como você as grita.
Enquanto isso, você se pergunta porque cargas d'água só você recebe esse tratamento discriminatório e exigente enquanto do outro lado nunca é exigido nada. Não importa o quanto eles também sejam falhos.
Se eles estão errados, não são punidos. São relevados.
Se nós estamos errados, mesmos estando certos, ainda estamos errados.
Ser introvertido é estar preso dentro de um paradoxo inevitável: Se sentir sozinho quando se está sozinho e se sentir ainda mais sozinho quando se está perto das pessoas.
É sem alternativa, acabar odiando as pessoas porque não podemos amá-las. Não do jeito que gostaríamos. Só nos dizem que só podemos "amá-las" do jeito extrovertido.
É o coração e a alma das pessoas estar no limite do inalcansável, é nós desejarmos de todo nosso coração podermos nos conectar com elas, mas isso nunca ser possível. Porque elas nunca deixam. Porque elas estão cobertas por camadas infinitas de futilidade que as mantém distantes.
Nos sentimos sozinhos. Sentimos a vida toda que há algo de errado conosco. E que nós somos os únicos que se sentem asssim. Não sabemos que existem outros iguais a nós, porque o mundo mentiu para nós.
Só o modo extrovertido é que existe, só os extrovertidos é que são normais, só a extroversão é que é o modo correto de ser.
Ainda que na história da humanidade, "curiosamente", não há a versão extrovertida do Albert Einstein, do Stephen Hawking, do Alfred Nobel, do Nikola Tesla, do Isaac Newton, do Bill Gates, do Warren Buffet, da JK rowling, da Rosa Parks, do Ghandi, do Buda, do George orwell, do Lewis carrol...
Tudo que elas fazem é chamar atenção para si mesmas. Mas nunca vi elas darem atenção a ninguém. Isso apenas introvertidos fazem. Eles falam, mas nós escutamos.
Vocês tem charme?
Nós temos caráter.
Vocês tem a socidade?
Nós temos a natureza.
Vocês tem as pessoas?
Nós temos um vasto universo infinito pulsante de idéias, sonhos, desejos, cálculos e imaginação dentro da nossa cabeça.
Idéias que ao longo da história usamos para revolucionar o mundo. Ideías que usamos para mudar o mundo.
É paradoxalmente, as pessoas não gostarem de nós, nos mal compreenderem, não nos darem valor, mas ao mesmo tempo não serem inteligentes o suficiente para enxergar que elas de fato usam tudo que nós criamos.
Ama a criação, mas despreza o criador.
E finalmente, é ter uma enorme vontade de arrancar a máscara, atirá-la no chão e gritar: "Sim, eu sou introvertido, com muito amor e com muito orgulho! Esse sou eu em todo meu esplendor, quer vocês aceitem ou não, e eu continuarei sendo assim para sempre!”