Porque introvertidos são excluídos de grupos?

Com certeza deve fazer parte da experiência de todo introvertido ser, na maioria das vezes, excluído de grupos sem mais nem menos, na escola, durante a infância, e no trabalho, na vida adulta.

Mas porque isso ocorre?

O que as pessoas tem contra nós?

Somos nós o problema? Ou são as pessoas?

Durante boa parte da minha vida, me senti excluída. Quando era pequena, comia sozinha sentada no banco na hora do recreio e na vida adulta, tenho dificuldade de fazer trabalho em grupo com meus colegas na faculdade e arranjar emprego. Em todas as instituições em que eu estudei, sofri bullying. Eu tenho um forte complexo de me sentir excluída. Porque fui excluída a minha vida toda (Eu compartilho essa minha experiência em Inner).

Toda vez que me excluem de algo, meu forte complexo se ativa. Eu me sinto deprimida e com dor no peito.

A coisa que eu mais odeio que façam comigo, meus colegas da faculdade fazem comigo todos os dias.

Eu me sinto como se fosse uma batata quente sendo passada de mão em mão com quem ninguém quer ficar.

Mas eu SEI porque meus colegas nunca querem fazer trabalho comigo. Eles não me enganam.

É porque é difícil trabalhar comigo?

É porque eu causo muitos problemas para eles?

É porque eu sou chata e desagradável?

NÃO!

Se eles afirmassem qualquer uma dessas coisas, estariam sendo narcisistas e hipócritas. Porque até parece que eles não tem defeitos também e são perfeitos.

Também pode ser difícil trabalhar com eles.

Eles também podem me causar muitos problemas.

Eles também podem ser desagradáveis.

Muita gente na sala pode ser difícil de trabalhar, pode causar muitos problemas, podem ser chatas e desagradáveis e nem por isso o restante da turma deixa eles fazerem o trabalho sozinhos.

Não, a verdadeira razão pela qual eles me deixam fazer trabalho sozinha, me excluem e até me hostilizam é muito mais fútil do que isso.

É simplesmente porque...Eu não faço parte da panelinha deles.

Eles próprios já afirmaram isso, então não podem dizer que eu estou mentindo.

Se eu fizesse parte de uma das panelinhas deles, eles JAMAIS me deixariam fazer trabalho sozinha, não interessando o quão detestável ou desagradável eu fosse, não interessando o quão difícil fosse fazer trabalho comigo.

Mas porque eu não faço parte de uma das panelinhas deles?

Porque eu sou introvertida e introvertidos não fazem panelinha. Nós não fazemos associações com ninguém. Somos individualistas e independentes por natureza. É como se em nós os instintos tribais e gregários fossem mais fracos, já que somos praticamente auto-suficientes sozinhos, porque nosso cérebro recarrega através da solidão.

Nós até poderíamos fazer panelinhas e associações, mas isso simplesmente vai contra a nossa natureza.

Eu tenho pena de quem pensa que nós introvertidos simplesmente somos anti-sociais. Não, nós somos MUUUITO mais complexos do que isso. Somos tanto, que ATÉ EU, tenho dificuldade de entender meu próprio cérebro ás vezes, de tão complicado que ele é.

Ao dizer que fazer panelinha vai contra a nossa natureza não quero dizer que o hábito em si vai contra a nossa natureza, e sim o modo como ele é feito. Nós fazemos panelinha sim, é claro. Mas...só com nossa família, pessoas de confiança e...com outros introvertidos. Demais pessoas não entram na nossa lista.

A minha teoria é a seguinte: Nós introvertidos temos uma bolha invisível ao nosso redor, trancada à sete chaves e não deixamos ninguém entrar. As mantemos fora. Deixamos claro que nós estamos aqui dentro e eles lá fora. E as pessoas instintivamente sentem isso, nos vêem como forasteiros, como não fazendo parte do grupo deles. Quando vivíamos em pequenas sociedades, a noção de que fazemos parte de um grupo que deve ser favorecido e os outros hostilizados, foi vital para a nossa sobrevivência e evolução. Por isso, esses instintos tribais foram passados a nós. Então, se eu não faço parte de um grupo, sou uma forasteira, mereço ser excluída e hostilizada. Tentar forçar a entrada para essa bolha não funciona. A única coisa que a abre, é uma chave. O problema é que a maioria das pessoas não tem essa chave. Só quem tem a chave são: Nossa família, pessoas de confiança e outros introvertidos. Portanto, são as únicas pessoas que deixamos entrar dentro de nossa bolha. As outras estão fora, simplesmente.

Na mente de um introvertido, as pessoa ou significam TUDO para nós, ou não significam NADA. NÃO EXISTE para nós meio-termo, não existe para nós amizade superficial, ou relacionamento superficial. Até biologicamente isso é verdade. O nosso cérebro não reage a amizades superficiais. Não libera nada. Ele só reage a duas coisas: Solidão ou intimidade. Se as pessoas tentam nos forçar goela abaixo uma amizade superficial, não reagimos, não temos o menor interesse e tentamos fugir para o que é familiar para nós: Ou solidão ou intimidade.

"I wanna be alone, but love is emotion" (Sabrina Carpenter).

A chave que abre nossa bolha, nosso coração, é a conexão emocional profunda. Nossa família e pessoas de confiança entram facilmente na nossa bolha, porque nós já estabelecemos com eles uma conexão emocional profunda. E outros introvertidos também entram facilmente porque sabemos que eles também querem uma conexão emocional profunda tanto quanto nós.

Então, como fazer com que pessoas estranhas entrem em nossa bolha?

É simples: Elas precisam significar para nós a mesma coisa que nosso pai, mãe, irmão e amigo de confiança significam. Ou seja: Elas precisam nos deixar amá-las e conhecê-las profundamente e também nos amar e nos conhecer profundamente. Precisamos estabelecer com elas uma conexão emocional profunda.

Mas porque isso não acontece? Porque a maioria das pessoas não tem essa chave? Porque as pessoas nos negam a conexão emocional profunda que tanto queremos?

Porque as pessoas tem medo. Medo de amar. Medo de amar e ser decepcionado, traído e magoado. Às pessoas que tem medo de amar por medo de serem decepcionadas, traídas e magoadas (especialmente às pistantrofóbicas), eu digo o seguinte: Não é preciso que as pessoas durmam conosco ou tenham intimidade conosco ou sequer nos conheçam para nos decepcionar, nos trair e nos magoar. Elasfazem isso. De qualquer jeito. Porque em nossa vida, quantas vezes já confiamos em um estranho e ele traiu nossa confiança? Nos decepcionando? E quantas vezes um estranho na rua, na escola, no trabalho ou mesmo na internet já nos ofendeu profundamente sem razão nenhuma? E nunca pediu desculpas? Então a pessoa que acredita nisso não está se privando de ser decepcionada, traída e magoada, ela só está se privando de ser amada. Mas tá, eu admito, quando temos intimidade com uma pessoa dói muito mais. Mas e daí? Porque uma, duas ou três pessoas em que confiamos em nossa vida nos decepcionaram, nos traíram e nos magoaram vamos acreditar que todas são assim? Isso é generalização.

Ao mesmo tempo, paradoxalmente, as pessoas tem medo de solidão. Então, para fugir das duas coisas que mais lhe causam medo, a sociedade criou um meio-termo perfeito: Ela combate a solidão mas ao mesmo tempo não pode magoar, porque não é profunda o suficiente para isso: Os relacionamentos/amizades superficiais. 

Introvertidos não somos contra as pessoas quererem isso, o que não gostamos é TODAS as pessoas quererem isso o TEMPO TODO. E nenhuma nunca queira algo mais sério, mais profundo. Todos só querem sempre "ficar" (Eu não preciso nem falar que nós introvertidos não ficamos e não fazemos sexo casual), ou então tem algum interesse, ou então querem algo de nós. Hoje em dia, a maiorias das relações se tornou assim. Mas eu não culpo as pessoas, o meio e a sociedade que as condicionou para serem assim. Vivemos em uma sociedade anti-amor, anti-compromisso, anti-intimidade.

Introvertidos estabelecemos uma conexão emocional profunda com as pessoas quando conversamos com elas a respeito de assuntos pessoais, desabafamos para elas tudo que atormenta nossa alma, e elas também fazem o mesmo, ou então debatemos sobre idéias.

Voltando à pergunta inicial: Quem é o culpado por isso? Somos nós, por termos tão altas exigências ou são as pessoas, por não quererem nos dar o que queremos? 

Uma vez, eu dei um tapa na cara do meu irmão esquizofrênico em pleno surto. O tapa fez com que ele se sentisse ameaçado, ativou sua agressividade e fez com que ele atacasse a mim, meu pai e minha mãe. A culpada sou eu ou ele? Evidentemente, eu não sou culpada por ter feito isso e ele não tem culpa de ser esquizofrênico. Da mesma forma, eu não tenho culpa de ser introvertida e as pessoas não tem culpa de não dar o que eu quero. Porém eu acho as outras pessoas as mais culpadas nisso tudo, porque se elas simplesmente entendessem como meu cérebro funciona, dessem o que eu quero, o ciclo de exclusão mútua simplesmente se fecharia. Eu não as excluiria mais da minha bolha e elas não me excluíam mais de seus grupos. 

Ironicamente, mesmo que eles não queiram admitir isso, em todas as panelinhas que eles fazem, eles não percebem que sua relação com o outro é superficial. Suas panelinhas são superficiais.

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